Oferta elevada, demanda em moderação, competição com renováveis e desafios regulatórios redefinindo preços, produção e estratégias industriais.
O mercado de petróleo atravessa um momento de transição. Após anos de volatilidade elevada, choques geopolíticos e variações bruscas de preço, atualmente percebe-se uma tendência de oferta crescente somada a uma desaceleração na demanda — especialmente em países desenvolvidos — e pressão regulatória maior sobre emissões e sustentabilidade. Para o Brasil, esse cenário traz oportunidades (crescimento da produção, exportações, investimentos) mas também exige adaptação, competitividade e inovação para manter relevância.
Nos próximos tópicos, vamos destrinchar os principais vetores desse cenário, apresentar projeções de preços, desafios e implicações para o setor petroquímico, combustíveis e política energética no Brasil.
Cenário Global
1 – Oferta supera demanda e excedente pressionará os estoques
A IEA e a EIA estimam que a produção global continuará aumentada, especialmente por OPEC+ e produtores independentes, enquanto o crescimento da demanda será contido.
Estimativas da EIA apontam que o preço do Brent deverá ficar em ≈ US$ 66/barril para 2025 e cair para cerca de US$ 59-60/barril em 2026, caso os estoques continuem acumulando.
A produção de petróleo nos Estados Unidos deve atingir níveis altos, o que, além de aumentar oferta, adiciona risco de competição por mercados externos.
2 – Pressões regulatórias, ambientais e de transição energética
Cresce a exigência de políticas para redução de metano, captura de carbono, eficiência energética em operações upstream. Essas pressões elevam custos e impõem requisitos novos para explorar/produzir. (dados globais recentes).
A eletrificação dos transportes, competição de biocombustíveis e de combustíveis sustentáveis (ex: aviação sustentável) está reduzindo ritmo de crescimento da demanda por combustíveis fósseis, especialmente em setores de transporte rodoviário leve.
3 – Preços sob risco de queda — ou pelo menos de estabilização em patamares mais baixos
Com o aumento da oferta e a moderação da demanda, analistas de grandes bancos (ex: J.P. Morgan) já ajustaram para baixo suas previsões de preço.
Há também influências macroeconômicas: desaceleração econômica em algumas regiões, tensões comerciais (ex: EUA – China) e incerteza quanto à política energética futura.
Situação Brasileira
1 – Produção, reservas e estrutura de mercado
A produção de petróleo do Brasil deve crescer cerca de 6% em 2025, chegando a ~ 3,6 milhões de barris por dia (bpd).
Porém, em agosto de 2025 houve ligeira queda de ~1,5% em produção total de petróleo e gás em comparação com julho. Pré-sal continua respondendo por quase 80% da produção nacional.
Reservas provadas nacionais (petróleo + gás natural) cresceram nos últimos anos, segundo o Anuário Estatístico da ANP. A produção de derivados também cresceu levemente, e a capacidade de refino opera em ~ 86% da sua capacidade instalada.
2 – Demanda por combustíveis e biocombustíveis
Projeções do IBP e da EPE indicam crescimento relevante da demanda de diesel e gasolina para 2025-26. Por exemplo: crescimento de ~ 2,5% para diesel, ~ 5,1% para gasolina C em 2025, embora o etanol hidratado deva ter queda em 2025 seguida por recuperação em 2026.
Políticas como o mandato de mistura de biodiesel e incentivos para transporte limpo pesam como fatores de suporte.
3 – Desafios internos: custos, competitividade e sustentabilidade
A indústria petroquímica brasileira opera sob forte pressão de custos de energia, gás natural, logística e insumos importados. A ociosidade no setor químico reforça esse sinal.
Regulação ambiental (emissões, licenciamento) e exigências de descarbonização já começam a impactar novos projetos.
Necessidade de investimentos em infraestrutura (refino, transporte, estocagem) para manter competitividade, especialmente frente aos investimentos internacionais em produção upstream e renováveis.
4 – Oportunidades
Maior produção do pré-sal: ganhos de escala, eficiência e uso de tecnologia de extração mais avançada, se bem geridos, podem reduzir o custo por barril e aumentar margens.
Exportação de derivados, aproveitando vantagens portuárias e canais globais, considerando que demanda de petróleo nos países desenvolvidos tende a desacelerar, mas demanda por plásticos, petroquímicos e combustíveis específicos segue relevante.
Biocombustíveis e mistura de combustível: com políticas regulatórias favoráveis, há espaço para crescimento no etanol, biodiesel e combustíveis sustentáveis, reduzindo dependência de combustíveis fósseis.
Digitalização, automação, uso de dados, inteligência artificial no upstream, manutenção preditiva, monitoramento ambiental etc., como forma de reduzir custos e aumentar eficiência.

Projeções de Preço e Cenário para os Próximos Anos
| Item | Projeção / Expectativa |
|---|
| Preço médio do Brent em 2025 | ~ US$ 65-70/barril (varia por agência/banco) |
| Preço médio do Brent em 2026 | ~ US$ 55-60/barril, com possibilidade de queda se estoques continuarem se acumulando |
| Produção brasileira de petróleo | Crescimento de ~6% em 2025, mas risco de sazonalidade ou pequenas variações mensais negativas (como agosto-2025) |
| Demanda por combustíveis líquidos no Brasil | Crescimento moderado, com destaque para diesel e gasolina, enquanto biocombustíveis têm papel regulatório e de mistura crescentes |
Implicações para o Setor Industrial, Petroquímico & Estratégico
Margens petroquímicas: Com preço de petróleo mais pressionado para baixo, os custos de matéria-prima para plásticos e resinas podem estabilizar ou diminuir, se os custos logísticos e de insumo secundário forem bem geridos. Isso pode abrir espaço para ganhos de competitividade para indústrias locais.
Inovação e eficiência operacional: Indústrias que investirem em digitalização, otimização, captura de carbono ou em práticas sustentáveis (ex: redução de vazamentos, menor intensidade de carbono) estarão melhor posicionadas para exigências regulatórias e preferência de mercado.
Risco de desvalorização de ativos: Refinarias antigas, plantações de produção de óleo leve com custos elevados, infraestrutura defasada ou dependente de regimes regulatórios permissivos podem se tornar menos viáveis economicamente, especialmente se taxas de carbono ou regulação ambiental se tornarem mais rígidas.
Políticas públicas como diferencial competitivo: Política de combustíveis, mandatos de mistura, incentivos fiscais, leilões de petróleo & gás, licenciamento ambiental e clareza regulatória se tornarão ainda mais importantes para investimento privado e atração de capital estrangeiro.
Integração com energias renováveis e transição energética: Petróleo continuará tendo papel importante, mas empresas e governos que considerem uma matriz energética mais diversificada e incluam planejamento para transição (inclusive para hidrogênio, biocombustíveis, renováveis) estarão em vantagem de longo prazo.

Conclusão
O mercado de petróleo em 2025-2026 prevê uma combinação de oferta elevada, demanda contida e pressão regulatória crescente. Esse contexto pressiona preços para patamares menos exuberantes do que em anos recentes, mas também cria oportunidades para países como o Brasil, que têm reservas substanciais, capacidade tecnológica razoável e política de energia que pode favorecer produção + exportação + sustentabilidade.
Para manter ou ampliar relevância, empresas brasileiras do setor devem focar em:
- eficiência operacional, custos e inovação;
- adaptação regulatória (ambiental, de emissões e licenciamento);
- diversificação do portfólio de combustíveis/derivados;
- maior integração de dados, digitalização e monitoramento.
Fontes
- Reuters – IEA eleva previsão de oferta de petróleo após decisão da OPEP (out/2025)
https://www.reuters.com/business/energy/iea-raises-2025-oil-supply-forecast-after-opec-output-hike-decision-2025-10-14 - S&P Global – Crude price fall to continue in 2025–26 as global production outpaces demand (out/2025)
https://www.spglobal.com/commodity-insights/en/news-research/latest-news/crude-oil/061025-crude-price-fall-to-continue-in-2025-26-as-global-production-outpaces-demand-us-eia - EIA – Short-Term Energy Outlook (out/2025)
https://www.eia.gov/outlooks/steo/ - J.P. Morgan – Oil price forecast and market outlook 2025 (set/2025)
https://www.jpmorgan.com/insights/global-research/commodities/oil-price-forecast - Reuters – Oil drops as investors weigh supply surplus outlook (out/2025)
https://www.reuters.com/business/energy/oil-drops-investors-weigh-supply-surplus-outlook-us-china-trade-tensions-2025-10-15 - InfoMoney – Produção de petróleo no Brasil deve crescer 6% em 2025, diz IBP (set/2025)
https://www.infomoney.com.br/economia/producao-de-petroleo-no-brasil-deve-crescer-6-em-2025-diz-ibp - Poder360 – Produção de petróleo e gás do Brasil cai 1,5% em agosto de 2025
https://www.poder360.com.br/poder-energia/producao-de-petroleo-e-gas-do-brasil-cai-15-em-agosto-de-2025 - ANP – Anuário Estatístico 2024 – Dados Consolidados
https://www.gov.br/anp/pt-br/canais_atendimento/imprensa/noticias-comunicados/anp-divulga-dados-consolidados-em-ingles-do-setor-regulado-em-2024 - IBP – Perspectivas para o setor de combustíveis em 2025
https://www.ibp.org.br/hub-de-conhecimento/noticias/ibp-discute-perspectivas-para-o-setor-de-combustiveis-em-2025 - Sindilimpe – Indústria química tem pior trimestre em 30 anos e opera com 38% de ociosidade (jun/2025)
https://sindilimpe.org.br/2025/06/30/industria-quimica-tem-pior-trimestre-em-30-anos-e-opera-com-38-de-ociosidade-no-pais - BP – Statistical Review of World Energy 2025
https://www.bp.com/en/global/corporate/energy-economics/statistical-review-of-world-energy.html - IEA – World Energy Outlook 2025
https://www.iea.org/reports/world-energy-outlook-2025